A maternidade real é um movimento de descontinuidade e de ruptura do que é ensinado sobre ser mãe. Trata-se de uma perspectiva que evidencia que há outras possibilidades de vivenciar este processo¹.

Olhar as diferentes possibilidades de maternidades é uma questão central para pensar na luta pela igualdade entre os gêneros¹. A ideia é ver além da imagem da "boa mãe”, uma forma romantizada que nega os sentimentos contraditórios sentidos pelas mulheres².

Quando se coloca a figura materna como um poço de felicidade, completude e entrega ao filho, há uma desconsideração da mãe como ser humano. A ideia de “natureza” ou “instinto” feminino apenas reforça a pressão de atuar com perfeição num papel tão difícil como o de ser mãe².

Quer entender mais sobre como é a maternidade real e formas de pensar em uma rotina mais leve? Continue a leitura do texto.

Resumo

  • A maternidade real é a forma de ver o ato de ser mãe a partir dos desafios e dificuldades que essas mulheres enfrentam¹.
  • Para amenizar a rotina pesada de uma mãe, é essencial que ela possa contar com uma rede de apoio².
  • Repensar o papel de uma mãe é urgente para que a sociedade entenda como lidar melhor e acolher as questões da maternidade².

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O que é maternidade para uma mãe?

Com certeza uma mãe não aponta sua função como fácil, linda e repleta de felicidade. Diferentemente do que é imposto, exercer a tarefa de gerir e cuidar de um ser é desafiadora — principalmente — quando se é mulher. É impossível dizer por todas as mães, mas alguns pontos são comuns à maioria delas³.

É evidente que elas amam seus filhos e desejam cuidá-los da melhor forma possível. Porém, com as transformações na sociedade, o papel e a posição da mulher mudaram³.

A figura feminina ocupa espaços no ambiente de trabalho e no meio acadêmico, tem jornadas duplas ou triplas e, muitas vezes, passa por todo esse processo sozinha. Os diversos discursos romantizados impõem o papel de “mãe perfeita”, o que ignora os obstáculos que a maternidade real proporciona³.

Uma mãe, além de amor, sente muita insegurança, medo, culpa, depressão e ansiedade³.

O que é ser mãe pós-parto e cuidar de um recém-nascido?

O puerpério é um período de grandes transformações, tanto físicas quanto emocionais. A nova rotina e as mudanças hormonais podem deixar a mulher mais vulnerável.

Não é para menos, afinal, a chegada do bebê desperta muitas ansiedades, e os sintomas depressivos são comuns. Isso acontece por dois motivos 4:

  • o bebê deixa de ser idealizado e passa a ser vivenciado como um ser real e diferente da mãe;
  • as necessidades próprias da mulher são postergadas em função das necessidades do bebê.

As alterações emocionais no puerpério contemplam estados depressivos, lutos vividos na transição entre a gravidez e a maternidade, mudanças corporais e angústia quanto à separação entre mãe e bebê 4.

Além desses pontos, há os medos relacionados à amamentação. A preocupação com a qualidade do leite, com a aparência das mamas, com a dor que o processo pode causar e com as necessidades nutricionais do pequeno são apenas alguns dos milhares de pensamentos que as mães de recém-nascidos sofrem 4.

Por que romantizam a maternidade?

Ver a maternidade como algo mágico foi uma forma histórica de incentivar as mulheres a procriar, a fim de que houvesse um aumento significativo da população5.

No entanto, a partir do momento em que as mulheres se voltaram para o lar e assumiram os papéis de mãe e esposa, ficou claro que mantê-las apenas no papel reprodutivo as retirava do ambiente de trabalho, decisão e poder5.

A maternidade ainda nos dias de hoje é extremamente romantizada e, como consequência disso, as dificuldades da gestação, do puerpério e da maternidade em geral são menosprezadas. Ainda hoje, acredita-se no mito do “instinto materno”, que coloca as mulheres como super-heroínas prontas a enfrentar qualquer desafio².

Essa romantização propaga o pensamento de que toda a mulher nasceu para ser mãe, o que intensifica a cobrança e a ansiedade na vida da figura feminina desde cedo. Essa pressão social sobre as mulheres age como um símbolo do controle social sobre seus corpos, ações e decisões².

Como é a maternidade real?

A maternidade real é a perspectiva que leva em conta os desafios que a mulher enfrenta desde a gestação até à vida adulta de seus filhos. Além disso, estimula a compreensão de que não existe um instinto materno que torne essa tarefa menos árdua5.

É comum que as mulheres se preparem para lidar com o pós-parto, mas, para muitas delas, o fim desta etapa vem acompanhada de outra fase complexa: a separação dos filhos5.

Com o retorno ao meio de trabalho, a angústia, o estresse e o medo tomam conta das mulheres que precisam retomar a vida enquanto lidam com o fato de deixar o bebê em casa ou na creche. Além disso, a falta de rede de apoio também influencia a saúde mental e a perspectiva do que é ser mãe5.

O sentimento de sobrecarga é uma reclamação muito comum entre essas mulheres, bem como o sentimento de culpa por não atingirem suas próprias expectativas de perfeição materna. Esses desafios são mais intensos para as mães solo, que precisam sustentar suas famílias sozinhas com recursos limitados6.

São muitos fatores que implicam os desafios e na forma de viver das mães. A maternidade real existe e é disseminada a partir das vivências diversas que contribuem para a compreensão de que não existe uma mãe perfeita e que, em diferentes escalas, todas precisam de apoio e compreensão 6.

Como tornar a rotina da mãe menos pesada?

Para amenizar as dores da rotina materna, é essencial que a mulher possa³ 6:

  • contar com profissionais de saúde preparados;
  • ter acolhimento e suporte da rede de apoio;
  • conhecer outras mães em uma rotina semelhante;
  • ouvir e compartilhar relatos sobre suas experiências;
  • promover momentos de relaxamento e bem-estar para si mesma e para seu bebê.

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1. Lauxen, Jéssica; Quadrado, Raquel Pereira. Maternidade sem romantismos: alguns. olhares sobre as maternidades e os sujeitos-mãe na contemporaneidade. RELACult-Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade, v. 4, 2018. Disponível em: https://periodicos.claec.org/index.php/relacult/article/view/775/426. Acesso em setembro/2024.2. Carvalho, Janine Pestana; Schiavon, Amanda de Almeida; Sacco, Airi Macias. A romantização da maternidade: uma forma de opressão de gênero. Realize Editora, 2018. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/editora/ebooks/senacorpus/2018/TRABALHO_EV103_MD3_SA3_ID316_23022018113230.pdf. Acesso em setembro/2024.3. Dias, Tamires Alves; Mendes, Stéffane Costa; Gomes, Samara Calixto. Maternidade romantizada: expectativas e consequências do papel social esperado de mãe. http://siseventos.urca.br/assets/pdf/sub_trabalhos/251-796-5274-887.pdf. Acesso em setembro/2024.4. Manual Técnico — Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada. Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_pre_natal_puerperio_3ed.pdf. Acesso em setembro/2024.5. Cantilino, Amaury; Lobato, Letícia Ferreira; Rigonatti, Luiz Felipe. A saúde mental das mães que precisam retornar ao trabalho: maternidade real. Publicações ABP documentos e vídeos= ABP Publications documents and videos, v. 8, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.25118/issn.2965-1832.2021.591. Acesso em setembro/2024.6. Maternidade imperfeita: o dia a dia de mães que não cabem nos estereótipos — Universidade Federal Fluminense. Disponível em: https://jornalocasarao.uff.br/2024/06/11/maternidade-imperfeita-o-dia-a-dia-de-maes-que-nao-cabem-nos-estereotipos/. Acesso em setembro/2024. 7. Rotulagem do produto Nebacetin Baby Prevenção.